Apesar do início promissor e perspectivas para uma safra 2023/24 de cana-de-açúcar no Centro-Sul do Brasil produtiva, com os canaviais se beneficiando das chuvas do último verão e apresentando uma recuperação na moagem, a chegada do El Niño tem mudado essa situação e trazido preocupações no mercado.
Estudos indicam que essa condição mais chuvosa provavelmente se estenderá a áreas importantes, como São Paulo e Mato Grosso do Sul, que são grandes regiões produtoras de cana-de-açúcar no Centro-Sul, oferecendo riscos para o período final de corte e moagem, principalmente no início da primavera.
Em entrevista com Maximiliano Salles Scarpari, pesquisador do Instituto Agronômico (IAC), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, conversamos sobre estes impactos diretamente ligados à produtividade dos canaviais e também ao rendimento do açúcar, que infelizmente tende a ser o mais afetado com a ocorrência do El Niño.
Entendendo o El Niño e seus impactos no ATR
O El Niño por ser um fenômeno climático caracterizado pelo aquecimento anormal das águas superficiais no Oceano Pacífico Equatorial, traz consequências significativas na variabilidade do clima mundial, que se manifestam de diferentes maneiras, dependendo da região.
Esse fenômeno tende a alterar os padrões de precipitação e temperatura em muitas regiões, o que pode impactar diretamente a produção de cana-de-açúcar. Em algumas áreas, pode resultar em secas prolongadas, enquanto em outras, pode causar chuvas intensas e inundações (no caso da região centro sul, enfrentamos aumento das chuvas). Ambas as situações podem ter efeitos prejudiciais sobre os canaviais, afetando diretamente o rendimento e a qualidade da matéria prima.
Fonte: El Niño e La Niña – CPTEC/INPE
No setor sucroenergético, a ocorrência do El Niño pode apresentar desafios consideráveis, especialmente para os canaviais de final de safra e, entender esses impactos e como mitigá-los é crucial para os tomadores de decisão no setor.
No gráfico abaixo observamos os impactos no rendimento do açúcar em 2015/2016 com a ocorrência do El Niño e o comportamento da curva nos outros anos sem a presença do fenômeno.
Fonte: Czapp
De acordo com o pesquisador, os efeitos do El Niño que devem já iniciar em agosto ou setembro, serão para o Sudeste do Brasil caracterizados por temperaturas elevadas ainda no inverno, comparadas ao ano anterior, e uma primavera e verão com chuvas acima da média, marcando o fim da safra.
O ano começou com perspectivas extremamente positivas para o setor, e de fato, temos visto resultados de alta produtividade nos canaviais. Porém, com a chegada do El Niño e seus efeitos já podendo ser percebidos no campo, espera-se que o volume de biomassa em alta não entregue o mesmo resultado em rendimento do açúcar.
“Temos observado nesta safra um alto volume de toneladas de biomassa, chegando a um aumento de 20% a 30% em alguns locais, e ao mesmo tempo insatisfação com relação ao ATR.”
Segundo o pesquisador, o problema maior em uma safra como esta é o custo, principalmente de transporte, isto porque existe um volume grande de biomassa a ser carregado, porém com uma concentração baixa de açúcar. Além dos impactos que envolvem a moagem e outros fatores relacionados à parte industrial.
Uma estratégia utilizada pelos produtores é a aplicação de maturadores, produto que acelera o processo de maturação da cana, aumentando a concentração de sacarose na planta evitando também sua queda com o retorno das chuvas de final de safra (processo ainda mais acentuado em anos de El Niño, tornando o uso dessa ferramenta ainda mais indispensável). Com esse fenômeno em curso acaba sendo inevitável a prolongação da safra por mais algumas semanas, ou até uma parte da cana sendo destinada para moagem somente no início da próxima, ou seja, bisando uma parte do canavial.
A modelagem e o mercado de inteligência artificial atento às estes eventos extremos para apoiar as usinas na antecipação e mitigação destes impactos
Estas tecnologias desempenham um papel importante na mitigação dos efeitos do El Niño na produção de cana-de-açúcar, permitindo simular cenários climáticos, tomar decisões informadas sobre o manejo da safra e otimizar o uso de recursos.
Segundo o Dr. Maximiliano estes cenários antecipados preparam as usinas a tempo de tomarem decisões, corrigirem e ou ajustarem seus planejamentos, seja para início como no caso das estimativas, meio, e ou fim de safra.
O pesquisador nos conta que é muito comum ouvir de seus contatos sobre as situações adversas que já estão já em curso, como por exemplo da queda de ATR ou então de canaviais já em floração, e que infelizmente em estágio já iniciado, estas condições são difíceis de serem contornadas.
“O grande ganho destas ferramentas é justamente poder antecipar a ocorrência destes eventos, seja um problema de ATR baixo, seja um problema de tonelada de cana alta, quando a usina não está preparada para este aumento do volume de biomassa. Outra antecipação muito importante é a de floração, monitorando antes da indução estas mudanças climáticas atípicas como El Niño e La Niña, e que poderão influenciar diretamente este fenômeno. Ou seja, estas soluções auxiliam tanto na predição de cenários catastróficos, como também cenários ótimos.”
Ele também explica que cada usina tem sua capacidade de colheita, capacidade de moagem, capacidade de comercialização e que todo esse planejamento precisa caminhar junto com estes cenários climáticos, e que estas ferramentas permitem que a gestão do campo, responsável pela colheita, aplicação de inibidor, maturador, receba estas informações antecipadas para agir no tempo certo.
Segundo sua visão, apesar do setor ainda ser mais conservador na adoção de tecnologias, este é um caminho sem volta e, tomadores de decisão de dentro das usinas dão abertura a estas inovações quando a comprovação dos benefícios como ganho de tempo, redução de custos e ganhos em produtividade e rendimento são percebidos.
“Quando a gestão entende o valor destas ferramentas e adotam estas soluções para colaborar em suas decisões, percebem os ganhos, acrescenta.”
Com a inteligência artificial e sensoriamento, é possível ganhar escalabilidade destas análises, e é importante entendermos que a capacidade humana de guardar informações é limitada. “O modelo mental nosso vai até o ano passado, mas se perguntarmos sobre a safra 2018/2019, esquece. A importância destas ferramentas é justamente poder armazenar e juntar tudo isso, dando o peso necessário para cada coisa e dar a previsibilidade baseada no cenário de clima, que é o mais importante. Assim, modelar estes cenários com os dados climáticos, estimativas, de produtividade para apoiar o tomador de decisões.”
“Estes produtos não são baratos. Se o produtor não entende a importância deste monitoramento, ou então perde este tempo de aplicação ou aplica em locais onde não há risco, os prejuízos podem ser altos. Se por outro lado ele tiver uma ferramenta que fornece estas informações das áreas potenciais para aplicação ou não, quando e o que deve ser aplicado, existe um ganho econômico enorme somente nesta tomada de decisão, acrescenta.
O pesquisador Maximiliano acredita que estas ferramentas são apenas o início da jornada promissora entre as necessidades do campo para tomadas de decisões cada vez mais assertivas e as tecnologias que unem dados agronômicos e inteligência artificial e que oferecem justamente estes cenários reais alinhados com o que ainda está por vir.
Seria então interessante uma ferramenta digital que auxilie na definição das melhores áreas para aplicação de maturador?
Tal ferramenta combina dados de clima, solos, variedades de cana e até parâmetros fisiológicos para fornecer recomendações de gerenciamento precisas. Esta seria uma inovação valiosa para o setor sucroenergético, permitindo aos gestores tomar decisões mais fundamentadas e potencialmente mitigar os impactos como do El Niño e ou mesmo outros eventos climáticos extremos.
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