Planejamento e tecnologia são decisivos para obter maior precisão nas projeções de ATR e TCH e prevenir o canavial de problemas no ciclo 23/24
Por Leandro Becker, jornalista especializado em agronegócio
Às vésperas do começo da safra 23/24 de cana-de-açúcar, os gestores de usina precisam estar atentos ao planejamento e antecipar ao máximo medidas para dois pontos-chave ao sucesso na nova temporada: obter máxima precisão das estimativas de ATR e TCH e proteger o canavial de prejuízos com florescimento e isoporização.
A combinação entre tecnologia e manejo adequado é recomendada pelos especialistas, pois não só otimiza o trabalho desenvolvido – especialmente por poupar tempo no diagnóstico do canavial – como permite agir de forma mais rápida para resolver qualquer incidência que traga riscos à produção da matéria-prima.
Confira a seguir como aplicar isso na prática:
Prevenção de florescimento e isoporização
O florescimento e a isoporização são dois dos principais desafios que os gestores de usinas enfrentam durante a safra. Enquanto o primeiro é o processo pelo qual a cana-de-açúcar produz flores, o que pode afetar a extração do açúcar pela indústria, o segundo impacta na produtividade do canavial e causa uma perda direta de biomassa, o que impacta na qualidade da matéria-prima e na eficiência industrial.
Considerando um canavial médio, com rendimento de 74 toneladas por hectare, uma perda de 30% no canavial decorrente de florescimento e isoporização pode resultar em 20 toneladas a menos de produção. Isso significa um prejuízo de R$ 3.100 por hectare, enquanto a operação preventiva custa em torno de R$ 140 por hectare. Logo, investir em prevenção e otimização é mais do que justificado.
Portanto, é essencial que o gestor tenha um plano de contingência no planejamento da operação. Isso passa por dispor de uma equipe técnica qualificada e, principalmente, contar com o apoio de sistemas de tecnologia baseada em inteligência artificial, para combinar a obtenção de um diagnóstico mais preciso com a otimização do manejo, em especial no uso de insumos.
A utilização de uma ferramenta preditiva é importante porque a indução de florescimento, por exemplo, não tem, inicialmente, nenhum sintoma físico ou visual na planta, a não ser que ela seja cortada. Ou seja, em muitas ocasiões o gestor só vai se dar conta do problema quando já será quase impossível resolver.
Dispor de um sistema baseado em inteligência artificial também garante ao gestor uma atualização diária das áreas de risco, talhão por talhão, associada à informação de clima real e previsão para os próximos dias. Isso permite que a usina possa mapear de forma eficiente a situação no canavial e, a partir do risco potencial, agir rapidamente.
O diagnóstico digital, além de trazer uma visão mais precisa e realista da lavoura, ainda permite ajustar, se necessário, a janela para aplicar inibidor e maturador de forma mais assertiva. Outra vantagem se reflete na administração de insumos essenciais – como a adubação, que é feita com base na produtividade esperada. Outro benefício do sistema é ajudar a planejar o cultivo antes mesmo do plantio, com a escolha de variedades menos propensas a florescer e isoporizar.
Precisão nas estimativas de ATR e TCH
Obter a máxima precisão para calcular as estimativas de ATR (Açúcar Total Recuperável) e TCH (Toneladas de Cana por Hectare) é fundamental para o gestor de usina não só estar ciente da situação do canavial, mas fazer o manejo necessário e antecipar ao máximo o planejamento estratégico da operação, em especial para o orçamento da próxima safra..
A alta acurácia neste cálculo, entretanto, passa por vários fatores, principalmente pelo uso de dados históricos para estabelecer uma base de comparação e a realização de amostragens frequentes nos campos de cultivo. Um cálculo que fica muito mais fácil com o uso de satélites e seus sensores, ciência de dados e acompanhamento de especialistas em agronegócio.
Neste processo, sensores de campo, drones e inteligência artificial aceleram a coleta de dados, além de aumentarem a precisão e oferecerem um monitoramento em tempo real – o que também impacta nos custos da usina. Afinal, todo bom gestor sabe que coletar dados com equipes de campo não só leva mais tempo como gera em um custo mais elevado, sem contar os riscos de erro na estimativa, já que as avaliações são mais subjetivas.
A possibilidade oferecida pela tecnologia de oferecer um painel atualizado do que se passa no campo, com imagens de satélite atualizadas e cálculos refeitos periodicamente em segundos, também permite uma maior compreensão do atual cenário da usina, além de auxiliar a identificar problemas mais rapidamente – e tomar medidas para corrigi-los.
Além disso, combinar precisão no monitoramento com atualização semanal das estimativas de produtividade e rendimento contribui muito para melhorar o gerenciamento da usina, já que a automação permite identificar, por exemplo, a melhor época de colheita para obter o maior teor de açúcar possível combinado com a maior produtividade de TCH.
Considerando uma área de 10 mil hectares de cana e uma taxa média de erro na estimativa de 5%, hoje é preciso investir em torno de R$ 9,7 milhões a mais para recuperar e/ou repor a quantidade de açúcar. Com uma ferramenta de automação e inteligência artificial, essa taxa de erro cai para 2%, o que dá um custo adicional de R$ 2,6 milhões e evita a necessidade de compra adicional de cana Spot no mercado a preços mais elevados e com comprometimento das metas da companhia.Finalmente, automatizar as estimativas de ATR e TCH é uma contribuição direta para o crescimento sustentável do negócio em médio e longo prazo. Ao ter mais clareza sobre os resultados, bem como otimizar o uso de recursos, o gestor pode, por exemplo, identificar já no início do verão quais áreas estarão mais aptas para fertilização suplementar, o que contribui para o aumento da produtividade e para entender melhor os gargalos da operação.
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