Panorama econômico demanda muita atenção do gestor de usina para tomar decisões estratégicas de olho em rentabilidade

Por Leandro Becker, jornalista especializado em agronegócio

A reta final da safra de cana-de-açúcar e o planejamento do próximo ciclo desafiam os gestores de usinas neste primeiro trimestre de 2023. Afinal, o momento exige uma combinação que vai de gestão eficiente, importantes tomadas de decisões e gerenciamento minucioso de olho em garantir rentabilidade máxima da operação.

Nesse sentido, o panorama econômico demanda muita atenção do gestor de usina. Afinal, o mercado é altamente influenciado por fatores como a oferta e a demanda, bem como por questões políticas. Logo, é essencial estar atualizado tanto sobre os resultados da safra 22/23 quanto sobre as projeções para a nova temporada.

Balanço da União Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica) aponta que, até a fim de janeiro, a moagem atingiu 542,39  milhões de toneladas no acumulado da safra 2022/2023, ante 522,62 milhões de toneladas registradas no mesmo período no ciclo 2021/2022 – um avanço de 3,78%. Já a qualidade da matéria-prima colhida acumulada (em kg de ATR por tonelada de cana processada) caiu 1,28% na comparação com o mesmo período do ciclo anterior, atingindo 141,15.

Para a temporada 23/24, as projeções iniciais sinalizam uma moagem entre 564,3 milhões e 600 milhões de toneladas, segundo levantamento do portal NovaCana junto a 22 consultorias e empresas especializadas. O açúcar segue como preferência produtiva, com preços mais favoráveis que o etanol. Na média, as empresas estimam uma moagem de 581,93 milhões – 7,4% a mais do que o registrado até o momento em 2022/23.

Além disso, consultorias como a StoneX projetam que a colheita da próxima temporada alcançará uma média de 76 toneladas por hectare, ou seja, superior à média dos últimos dez anos, de 75,8 toneladas por hectare. Diante disso, é importante que o gestor de usina já comece a planejar o ciclo seguinte tendo em vista o crescimento da produção de cana e da moagem, o que significa que o preparo da colheita será ainda mais exigente.

Analistas projetam que os efeitos da histórica quebra da safra de 2021/22 no Centro-Sul devem ficar para trás neste novo ciclo, com o clima contribuindo para a produtividade voltar ao normal. Logo, a perspectiva é de que uma oferta mais confortável de açúcar e etanol possa ajudar a diluir os custos fixos das usinas, indica reportagem do Valor Econômico.

O crescimento estimado na moagem tende a, naturalmente, incrementar a produção de açúcar e etanol – o que impactará diretamente no mercado. Por outro lado, a possibilidade do retorno dos impostos sobre os combustíveis no Brasil tende a favorecer a produção do etanol em detrimento do açúcar, como projeta a StoneX.

Já a Datagro prevê que “as usinas buscarão maximizar a produção de açúcar em 23/24 especialmente em função das incertezas sobre o mercado de petróleo, cujos preços voltaram a cair em reação às previsões de desaceleração, ou até mesmo recessão, da economia global”.

Essa divergência de avaliações, conforme análise da Money Times, indica que o grande dilema do planejamento é o que fazer com o mix – e qual mix. Por isso, o entendimento é que o melhor caminho é o gestor da usina aguardar março para tomar uma decisão que considere, por exemplo, como estarão os preços do etanol.


Com relação ao mercado de açúcar internacional, a grande atenção está na situação da Índia, que deve produzir, segundo análise da Reuters, cerca de 34 milhões de toneladas de açúcar na safra 2022/23, “uma queda de 7% em relação à previsão anterior”. Isso levou o mercado internacional do açúcar fechar o último dia útil de janeiro batendo a máxima de seis anos na ICE Futures de Nova York, com a perspectiva de que a commodity termine o ano com déficit de pouco mais de 1 milhão de toneladas, revertendo os três anos seguidos de superávit, aponta avaliação da Green Pool.

Apesar disso, a Archer Consultoria estima que o Centro-Sul deve produzir 37 milhões de toneladas de açúcar na safra 2023/24 – volume significativo que deve compensar adequadamente uma eventual redução do total de exportação indiana.

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